quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Para reflectir...

Vivemos o que dizemos?

1. Numa sociedade videocêntrica como a nossa, em que as pessoas gostam de ver por fora e precisam de olhar para dentro, é fundamental que a Igreja aposte, decididamente, na transparência.

Deus é amor (cf. 1Jo 4, 8.16) e o amor é divino. Tal intimidade identitária entre o amor e Deus levou Hans Urs von Balthasar a proclamar que «só o amor é digno de fé».

E o certo é que Juliano, ao apostatar, confessou que do Cristianismo só queria conservar uma coisa: o amor.

No princípio, os cristãos tinham um só coração e uma só alma; punham tudo em comum e chegavam ao ponto de ninguém considerar seu o que possuía (cf. Act 4, 32).

Os não cristãos espantavam-se com esta coerência e, como nos dá conta Tertuliano, reconheciam: «Vede como eles [os cristãos] se amam»!

Não há dúvida de que o amor faz muito mais pela difusão do Evangelho de Cristo do que as mais doutas considerações que os mestres, a respeito dele, possam fazer. Não é que os mestres não sejam escutados. Mas sê-lo-ão com tanta maior atenção quanto mais credível for o seu testemunho.

Paulo VI advertiu com grande sentido de oportunidade: «O mundo escuta mais as testemunhas que os mestres».

Em síntese, onde se vê amor, vê-se fé. Se definha a fé é porque o amor já desfaleceu.


2. Se Deus é amor e se a Igreja é rosto de Deus, então a Igreja terá de se afirmar, necessariamente, como a Casa do Amor, como o Lugar do Amor.

Mas será que esse amor é visível? Será que, na Igreja, as pessoas podem ver o que esperam? Será que podem ver o que a Igreja é? Ou não será que, frequentemente, têm de ver o que a Igreja não é?

Já nos anos 70, o teólogo Joseph Ratzinger, registava: «Se, antigamente, a Igreja era a medida e o lugar do anúncio, agora apresenta-se quase como o seu impedimento».

Em recente carta dirigida aos bispos, Bento XVI diz que, não raramente, os cristãos se mordem e devoram uns aos outros.

E o que é mais estranho é que, no caso vertente, tal reacção não se verifica diante da injustiça, mas diante da bondade.


3. Há, na Igreja, quem, pura e simplesmente, não suporte a bondade. Há quem se sinta mal por haver quem seja bom.

Às vezes, «fica-se com a impressão de que a nossa sociedade tem necessidade, pelo menos, de um grupo ao qual não concede qualquer tolerância, contra o qual seja possível tranquilamente arremeter-se com ódio. E se alguém ousa aproximar-se do mesmo — do Papa, neste caso — perde também o direito à tolerância e pode de igual modo ser tratado com ódio, sem temor nem reserva».

O pior é que este ódio não chega de fora; vem de dentro. São cristãos que atacam cristãos e, ainda por cima, por causa da prática do bem. Só que, citando uma passagem de S. Paulo (Gál 5, 13-15), Bento XVI adverte: «Se vos mordeis e devorais mutuamente, tomai cuidado em não vos destruirdes uns aos outros».


4. Quem serão estes cristãos que arremetem contra o pastor universal? Não é o povo simples, que reza em casa e enche os templos, que censura o Santo Padre.

Não nos escandalizemos, mas as falhas atingem a todos. E nós, servidores do povo, não estamos isentos de pecado.

Neste tempo de abrandamento das actividades, faz bem sentir que todos precisamos de conversão, de mudança.

Urge reaprender a venerar Deus no Homem da Rua, que carrega o fardo pesado do quotidiano e a quem nós presenteamos amiúde com indiferença e sobranceria. Exibimos arrogância na presença e distância na linguagem. Sentimo-nos acima, consideramo-nos superiores.

Não é o sacrário nem a liturgia que nos desvia do mundo ou nos afasta da vida. O que nos afasta do mundo é o mesmo que nos afasta de Deus. Só pela humildade e pela modéstia, chegaremos a Deus.

in http://padrejoaoantonio.blogs.sapo.pt/

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